09 setembro, 2010

Ela recebeu o comentário com certa reserva.
Não estava entendendo exatamente onde terminava a brincadeira e começava a verdade.
Quando o assunto ganhou um nome, enfim compreendeu.
Ficou num misto de dúvida, euforia e medo.
Não imaginava que mesmo com sua idade pudesse criar aquele tipo de sentimento em outra pessoa.
Tantas vozes falando ao mesmo tempo a deixou aturdida... até que alguém disse : - ... é o celular dele.
Ela rebateu:- Não. Era só o código do sistema.
Mais tagarelices no seu ouvido.
Para calar a todos enfiou a mão no bolso procurando o bendito pedaço de papel.
Para sua surpresa confirmou que realmente era um número de celular.
As imagens voltaram à sua mente em pequenos pedaços... como um quebra-cabeça.
Sentiu uma mão em seu ombro e, quando se voltou, viu o rosto dele muito perto do seu.
Por causa das várias pessoas em volta falando ao mesmo tempo, só entendeu que como o dia seguinte seria o último veio então se despedir e entregar-lhe o código ( ? ).

Desceu o rosto e lhe beijou a face.
Dirigiu-se até a porta e saiu.
Ela não abriu o pequeno papel, nem mesmo se voltou para olhar pela última vez aquela silueta tão bonita.
Nem achou estranho. Era apenas uma gentileza.
Não alimentava qualquer esperança, pois sabia que não estava à altura.
Nunca houve um precedente. Então por que acreditar?
Quantas vezes seus olhares se cruzaram e ela percebeu um jeito diferente... Ele parado, encostado na parede a fitava com um olhar muito sério. Ou então do outro lado do ambiente parecendo querer dizer algo.
Talvez não tenha se acostumado a sua presença ou não sabia como dizer que não estava apreciando o desenvolver de suas atividades.
O barulho foi lhe trazendo de volta.
As vozes iam entrando no seu cérebro: “... ele disse que você mexe com ele...”
“...quando soube que seria seu último dia ele ficou muito estranho...”
“... disse pra mim que precisava fazer algo...”
“... você vai ligar?”
Como sempre sua saída foi diplomática. Nunca se expôs.
Guardou aquele pedaço de papel ( nem sabe ao certo para o quê ).
Talvez acredite que o dia em que precisar de uma aragem fresca, poderá olhar e rejubilar-se.
Nada mais.

Pensamento do dia...