30 março, 2009

Nascida em 1969




O final daquela década foi muito complicado politicamente.
Às vezes pergunto à minha mãe o que ela se lembra dos noticiários, dos comentários ouvidos nas vendas ou feiras, mas ela era alheia a esses assuntos.
Se eu tivesse nascido antes de 1969 e tivesse por volta dos 20 anos no final da década, com certeza eu seria um número.
Ou, com muita sorte, um nome numa lista de desaparecidos políticos.
Sempre acreditei no bordão; “ o Sol nasce para todos”... mas sei que esse Sol se faz cativo nas mãos de poucos nesse mundo estranho em que vivemos.
Uma vez uma colega me disse que conheceu uma senhora que foi militante e me contou um trecho de uma conversa dela com essa pessoa.
Minha amiga questionou como ela ‘se virava’ entre a vida de luta pelo seu ideal e com a dificuldade de criar uma filha pequena em anos tão assustadores.
A ex-militante respondeu que seu ideal também era pela filha e que a maior dificuldade se deu quando sua menina lhe perguntou por que a elas viviam daquele jeito...
Escolhendo bem as palavras ela explicou que ela lutava por um mundo melhor para todas as crianças.
Um mundo onde todas tivessem uma boneca... um brinquedo para levar para cama à noite.
Até hoje quando leio algum artigo que trata dos idealistas que perderam a vida pelo direito de dizer “sim” ou dizer “não”, lembro da história que aquela amiga me contou e sempre sinto um nó na garganta.
Tão jovens, tão sonhadores.
Só queriam um mundo onde fosse possível ter liberdade e pagaram um preço tão alto...
Muitos eram quase meninos.
Jovens sonhadores contra monstros gigantescos em 1969 ...

Pensamento do dia...